O
estresse profissional está disseminado entre os executivos e se constitui numa
séria ameaça à saúde das organizações.
Profissionais
estratégicos das empresas, verdadeiros nômades contemporâneos, são levados,
muitas vezes, ao limite da resistência física e emocional. Os níveis
intoleráveis de estresse vividos por estes indivíduos os conduzem a um estilo
de vida inadequado. É um coquetel nefasto.
Esse
estado grave de exaustão física e emocional que pode levar à depressão, e até
ao suicídio, é diagnosticado com a síndrome de Burnout (do inglês burn out,
cuja tradução seria queimar por inteiro. Atinge um em cada quatro trabalhadores
europeus. Na França, recentemente, registrou-se uma onda de suicídios em
grandes corporações como PSA-Peugeot, Renault, Areva e France Telecom, entre
outras. A causa: metas impossíveis x obrigação por resultados. Esta situação
coloca o indivíduo face a uma contradição crescente, entre o que lhe é cobrado
e o que efetivamente consegue realizar.
No
Brasil, segundo estudo da Universidade de Brasília, 70% da população sofrem de
estresse crônico e, desse total, 30% apresentam Burnout.
Em
2010-2011, 1,3 milhão de brasileiros se afastaram do trabalho e receberam auxílio-doença.
Nesse
mesmo ambiente corporativo, onde a cobrança por resultados é cada vez mais
intensa, o estresse é a resposta do indivíduo às dificuldades de
relacionamento, à pressão permanente pelo cumprimento de metas, aos riscos da
tomada de decisões, às exigências dos clientes, à disputa com os concorrentes e
mesmo à insegurança de perder o emprego. Como não conseguem conciliar o
desempenho profissional com os cuidados com a saúde, sucumbem.
A Harvard
Business School já demonstrou que 80% das consultas médicas estão
originariamente ligadas ao estresse. Nossas pesquisas, realizadas ao longo de
mais de duas décadas e sustentadas em mais de 60 mil check-ups médicos
realizados, acusam a presença de doenças incapacitantes, por vezes letais, em
indivíduos com idade cada vez mais precoce. Demonstramos isso em palestra no
MIT-Cambridge.
Se na
década de 1990 observávamos o câncer de próstata incidindo em homens a partir
de 60 anos, hoje esta doença se faz presente em indivíduos a partir de 40 anos.
Entre as
mulheres, as doenças também estão se antecipando. Se há 20 anos a incidência de
infarto do miocárdio ocorria, mais comumente, após a menopausa, hoje estes
eventos são registrados em pacientes a partir de 40 anos. Em 1990, para cada
nove infartos, um era em mulher; hoje, para cada três, um ocorre no sexo
feminino.
Este
desequilíbrio no âmbito dos executivos também traz consequências negativas para
a saúde das empresas, pois resulta em erros na tomada de decisões e,
evidentemente, na redução da produtividade. É necessário e urgente que se criem
estratégias de prevenção.
As
doenças que têm como base o estresse do cotidiano se multiplicam: acidente
vascular cerebral em FS, de 38 anos, diretora de marketing de hotelaria
internacional; depressão em PL, de 45 anos, dirigente de empresa multinacional
de óleo e gás; infarto agudo do miocárdio precedido de herpes zoster em TM, de
42 anos, diretor executivo de empresa de logística.
Avaliando
seus estilos de vida, verifica-se que se trata de indivíduos que dormem mal,
sedentários, com excesso de peso corporal, colesterol elevado, uso regular de
bebida alcoólica e com todas as emoções focadas no trabalho.
O
estresse é endêmico e com incidência crescente entre os executivos. É preciso
combatê-lo com programas de prevenção. A prática do check-up médico mais do que
detectar precocemente o aparecimento de doenças é fundamental para a elaboração
de programas preventivos de promoção à saúde individual. Esses programas são
definidos no pós-check-up e impactarão em mudanças no estilo de vida da
população examinada, garantindo o cumprimento da missão empresarial.
É
ferramenta estratégica das empresas que apostam na estabilidade funcional de
seus quadros como diferencial competitivo. Quem cuida da saúde de seus
profissionais está cuidando da sustentabilidade do próprio negócio.
Gilberto
Ururahy é diretor médico da Med-Rio
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