DIÁRIO DA MANHÃ
UEZE ZAHRAN
O GLP, popularmente conhecido como gás
de cozinha, tem enfrentado uma série de percalços motivados pela carência de
recursos destinados ao investimento na sua cadeia de produção, comercialização
e distribuição.
Uma das principais vulnerabilidades
desse mercado são as revendas multibandeiras, que podem negociar botijões de
várias marcas. Perder o rastro na hora da comercialização abre espaço para a
pirataria e para a depredação de preços, o que fragiliza o produto final. A
intenção dessa regulamentação foi baratear o custo para o consumidor, mas a
experiência mostra que isso não acontece. De acordo com dados da ANP, enquanto
a margem das revendas cresceu mais de 137% nos últimos dez anos, quando foi
implantado o sistema multibandeiras, a das distribuidoras cresceu cerca de 70%,
praticamente metade. A margem, sequer acompanhou a inflação do período, que de
acordo com o IPCA foi de 80%. Entre janeiro de 2003 e agosto de 2013 o valor do
produto ao consumidor final subiu quase 40%.
As companhias precisam ter margem para
reinvestir no próprio negócio e, principalmente, na segurança do consumidor.
Porém, os custos das distribuidoras com mão de obra, transporte e
requalificação – teste nos botijões para evitar vazamentos - só aumentaram.
A cada dez anos de uso, os botijões
precisam ser testados. Os aprovados continuam no mercado para mais uma década.
Os reprovados são sucateados e substituídos por novos. Desde que foi implantada
no Brasil, em 1997, após mais de 20 anos de luta pessoal, a requalificação fez
com que o número de acidentes com botijões diminuísse drasticamente nos últimos
anos. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo – ANP -, até julho do ano
passado, foram testados cerca de 150 milhões de vasilhames, dos quais mais de
25 milhões foram descartados. A operação, segundo o órgão, consumiu um
investimento de mais de R$ 8 bilhões das distribuidoras.
Existe ainda a necessidade de recursos
para investimento em automação de processos produtivos e melhoria de condições
nas plantas de engarrafamento das empresas, o que já acontece em várias partes
do mundo. Neste caso, mais importante que a otimização do sistema é a saúde dos
trabalhadores.
Os problemas vão além das questões
operacionais e regulatórias do setor. No caso das distribuidoras, o core
business está justamente na entrega do gás em milhares de domicílios pelo
Brasil. Por isso, a questão logística possui impacto relevante no orçamento das
companhias – cerca de 25% -, perdendo apenas para os de mão de obra. Para
piorar a situação, a malha viária brasileira é hoje um dos grandes gargalos de
infraestrutura do País.
Em cinco anos, a alta nas despesas com
o transporte do gás está 40% maior. Uma alternativa que daria mais eficiência,
segurança e mitigaria impactos financeiros, bem como ambientais, seria a
construção de uma separadora no Centro-Oeste do País, há anos reivindicada. O
Brasil conta hoje com 42 separadoras, porém nenhuma nesta região.
O crescimento da economia trouxe
consigo uma nova onda de demandas: aumento do poder de compra da população,
alta no consumo e surgimento de novos mercados. Para que esta engrenagem
funcione bem, está mais do que na hora das políticas públicas e regulamentações
serem revistas. O consumidor e toda a cadeia que envolve as empresas do setor
de GLP agradecem.
(Ueze Zahran, presidente do Grupo
Zahran, que tem como uma de suas empresas a Copagaz, quinta maior distribuidora
de GLP do Brasil)