quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Carência de investimentos ameaça mercado brasileiro de GLP




DIÁRIO DA MANHÃ
UEZE ZAHRAN

O GLP, popularmente conhecido como gás de cozinha, tem enfrentado uma série de percalços motivados pela carência de recursos destinados ao investimento na sua cadeia de produção, comercialização e distribuição.   
Uma das principais vulnerabilidades desse mercado são as revendas multibandeiras, que podem negociar botijões de várias marcas. Perder o rastro na hora da comercialização abre espaço para a pirataria e para a depredação de preços, o que fragiliza o produto final. A intenção dessa regulamentação foi baratear o custo para o consumidor, mas a experiência mostra que isso não acontece. De acordo com dados da ANP, enquanto a margem das revendas cresceu mais de 137% nos últimos dez anos, quando foi implantado o sistema multibandeiras, a das distribuidoras cresceu cerca de 70%, praticamente metade. A margem, sequer acompanhou a inflação do período, que de acordo com o IPCA foi de 80%. Entre janeiro de 2003 e agosto de 2013 o valor do produto ao consumidor final subiu quase 40%.  
As companhias precisam ter margem para reinvestir no próprio negócio e, principalmente, na segurança do consumidor. Porém, os custos das distribuidoras com mão de obra, transporte e requalificação – teste nos botijões para evitar vazamentos - só aumentaram.
A cada dez anos de uso, os botijões precisam ser testados. Os aprovados continuam no mercado para mais uma década. Os reprovados são sucateados e substituídos por novos. Desde que foi implantada no Brasil, em 1997, após mais de 20 anos de luta pessoal, a requalificação fez com que o número de acidentes com botijões diminuísse drasticamente nos últimos anos. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo – ANP -, até julho do ano passado, foram testados cerca de 150 milhões de vasilhames, dos quais mais de 25 milhões foram descartados. A operação, segundo o órgão, consumiu um investimento de mais de R$ 8 bilhões das distribuidoras.
Existe ainda a necessidade de recursos para investimento em automação de processos produtivos e melhoria de condições nas plantas de engarrafamento das empresas, o que já acontece em várias partes do mundo. Neste caso, mais importante que a otimização do sistema é a saúde dos trabalhadores.  
Os problemas vão além das questões operacionais e regulatórias do setor. No caso das distribuidoras, o core business está justamente na entrega do gás em milhares de domicílios pelo Brasil. Por isso, a questão logística possui impacto relevante no orçamento das companhias – cerca de 25% -, perdendo apenas para os de mão de obra. Para piorar a situação, a malha viária brasileira é hoje um dos grandes gargalos de infraestrutura do País.
Em cinco anos, a alta nas despesas com o transporte do gás está 40% maior. Uma alternativa que daria mais eficiência, segurança e mitigaria impactos financeiros, bem como ambientais, seria a construção de uma separadora no Centro-Oeste do País, há anos reivindicada. O Brasil conta hoje com 42 separadoras, porém nenhuma nesta região.  
O crescimento da economia trouxe consigo uma nova onda de demandas: aumento do poder de compra da população, alta no consumo e surgimento de novos mercados. Para que esta engrenagem funcione bem, está mais do que na hora das políticas públicas e regulamentações serem revistas. O consumidor e toda a cadeia que envolve as empresas do setor de GLP agradecem.
(Ueze Zahran, presidente do Grupo Zahran, que tem como uma de suas empresas a Copagaz, quinta maior distribuidora de GLP do Brasil)

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